Fediverso: o que é, como funciona e porque gosto tanto (e um pouco de história)
Um assunto que eu sempre soube que eu traria aqui para o podcast são as redes sociais descentralizadas, ou como alguns chamam de fé diverso.
Eu sou um entusiasta, eu fui gradativamente entendendo e me apaixonando cada vez mais por esse assunto.
Eu tento trazer pessoas para o fé diverso, pessoas e empresas, todas as empresas que falam comigo eu falo, a propósito, você não tem conta no Mastodon, cria uma conta no Mastodon, eu sempre sugiro para todas as empresas.
O assunto talvez não seja para você, mas não sei, talvez você queira ouvir a minha história e o porquê, e por que eu me apaixonei e por que eu acho que é uma coisa importante e que eu vejo como uma revolução silenciosa.
Aos poucos, gradativamente, de pouquinho em pouquinho, as coisas vão sendo construídas ali no fé diverso.
Para isso eu vou fazer uma pequena recapitulação da minha história na web, e para isso nós temos que fazer um pequeno esclarecimento aqui de termos.
Web e internet são duas coisas completamente diferentes, uma coisa ajuda a outra, mas são diferentes.
A mídia ao longo dos anos foi tornando essas duas palavras sinônimas, mas elas não são.
Eu lembro quando eu era mais jovem, quando a internet…
Pode já ir a falar, quando a web começou, eu ficava irritado porque a mídia chamava tudo de internet.
A internet é uma coisa muito antiga, no final da década de 60 ela surgiu como ARPANET.
Eu acho que uma forma de explicar a internet é físico, estrutural, conexão, cabos.
Então a internet é uma rede, é a ligação entre servidores, computadores, acho que é a forma mais simples de visualizar o que é a internet.
E depois, ainda não surgiu no final da década de 60, mas na década de 80 surgiu um protocolo chamado TCPIP, que é o protocolo que faz com que eu possa mover os dados para lá e para cá e checar se esses dados estão corretos ou não.
Eu não, né?
Os servidores, as conexões checarem se esses dados estão corretos, se os pacotes foram enviados corretamente.
E a internet tem essa característica descentralizada.
Os pacotes se dividem, se eu vou enviar alguma coisa, esse vídeo que você está assistindo chegou para você por vários caminhos.
Então essa é a natureza da internet, essa descentralização dos dados caminhando de um ponto até o outro.
Só depois de tudo isso é que surgiu a web, que é o que a mídia e algumas pessoas, hoje em dia praticamente todo mundo, confunde com a internet, os termos são misturados.
A minha conversa hoje é sobre o início e até hoje da web, mas provavelmente eu vou misturar os termos como eu quase fiz agora há pouco.
E como eu não sou mais tão jovem quanto eu era naquela época em que me irritava isso, hoje em dia eu acho tranquilo misturar os dois termos, mas eu só queria fazer essa distinção, porque essa história tem relação com a minha paixão, pelo meu gosto por redes sociais descentralizadas.
Então nós vamos falar um pouquinho sobre a web até chegar às redes sociais descentralizadas.
Um recado, eu não consigo encontrar aqui o clipe de lapela, por isso que eu estou segurando o microfone para quem está assistindo, estou segurando o microfone, e esse microfone não é o microfone com o qual eu costumo fazer as gravações, então eu estou em casa hoje, então o áudio talvez não fique daquele jeito como fica com outro microfone.
Ok, chega de conversa, vamos lá.
Quem criou a web foi uma pessoa chamada Tim Barners-Lee, e aqui vai uma curiosidade, na época, não sei porquê, algumas pessoas falavam que o Bill Gates tinha criado a internet, talvez por causa do Windows e o MSN, que era a rede que eles colocaram dentro do Windows, mas a curiosidade é que a web foi criada num computador Next, e Next é a empresa que o Steve Jobs criou quando ele saiu da Apple.
Então a web foi criada num computador que hoje ainda de certa forma no sistema, que hoje ainda de certa forma está vivo nos nossos Mac, quem usa o Mac e o iPhone está tudo vivo lá dentro, várias partes do sistema operacional ainda usam, entre aspas aqui, pedaços do sistema Next, mas estou me desviando completamente do assunto aqui.
Essa história é cheia de curiosidades.
A ideia do Tim Barners-Lee era uma internet muito mais dinâmica, pelo que eu posso entender, ele tem um livro muito interessante, ele publicou naquela época, você vai encontrar o link para o livro na descrição desse episódio, pelo que eu consigo visualizar da explicação dele, ele queria uma internet que fosse muito mais parecida com o que hoje é a Wikipédia, ou seja, as pessoas colaborando e trabalhando juntas em sites.
Ele não queria uma coisa de uma via só, ele queria que pudesse ter essa interação de um lado com o outro.
Depois que ele criou a internet, com a ajuda de várias pessoas e muita dedicação, forçando o caminho dele, forçando a ideia dele, no bom sentido, leia o livro, se você nunca leu o livro, é um livro muito interessante, acho que eu já reli ele umas duas vezes, muito interessante o livro.
Depois que ele criou a internet, ele acabou sendo, eu não sei se é presidente, diretor, ele é o responsável pelo que nós chamamos hoje de consórcio W3C, futuro eu aqui editando.
Eu sabia que eu ia errar, trocar as palavras, mas aqui ficou muito feio.
O Tim Barnes-Lee criou a web e não a internet, falei errado duas vezes seguidas, eu tinha que corrigir.
Ok, de volta à história.
O consórcio W3C é o que estabelece os padrões para quando você acessa um site, você ver aquele site independente do navegador que você está usando.
Houve um momento em que havia muita briga, haviam dois navegadores que disputavam o mercado, o Netscape e o Internet Explorer, e aí um criava códigos que não funcionavam no outro.
Houve um momento na internet e na web que você ficava vendo embaixo dos sites feito para o Internet Explorer, feito para o Netscape.
Não faz sentido.
E quem programava, às vezes, tinha que programar com os códigos, programava os sites, quem criava o site tinha que programar para funcionar nos dois navegadores.
Sites bem feitos acabavam funcionando nos dois navegadores, mas não no retrabalho.
E isso foi algo que quase destruiu a internet, quase que transformou a internet em algo dominado por uma empresa, ou seja, a Microsoft com o Internet Explorer.
Eles quase levaram a internet para o caminho que eles queriam em termos de…
A internet não, a web, para o caminho que eles queriam de padrões.
O W3C, o consórcio W3C hoje estabelece esses padrões, e não é obrigatório seguir, mas acho que hoje em dia é muito mais tranquilo, os padrões são seguidos e os sites são muito mais compatíveis, independentes do navegador que você usa.
Se você não viveu essa época, você não tem ideia de como era você não conseguir abrir um site porque ele não era feito para um determinado navegador.
Esse consórcio foi criando vários outros protocolos.
Um deles, daqui a pouco a gente vai chegar lá, é o protocolo chamado, eles não criaram, eles adotaram o protocolo chamado Activity Pub.
Esse protocolo é o protocolo das redes descentralizadas, do fé diverso.
Mas existem vários outros protocolos, por exemplo, o e-mail tem um protocolo, ou seja, como é que eu consigo enviar e receber e-mails independente do provedor, como é que eu consigo ler um site independente do navegador.
Então tudo segue protocolos que são usados para que eu possa ler, acessar e ver essas coisas em outras partes.
A web, quando ela surgiu, ela era muito estática, mais ou menos como hoje o site de uma empresa ou de uma instituição, que você entra no site, tem ali as informações, meio que como uma revista, um jornal está ali impresso e não muda, ou muda muito pouco.
Então você tem um caminho ali que você segue e havia muito essa preocupação de criar caminhos, como chegar nas coisas, vou entrar pela porta principal, pelo domínio, depois eu vou acessar tal parte do site.
Então tinha muita preocupação com isso, porque era estático, então você tinha um caminho que você seguia.
E tinham sites muito criativos também, depois começaram a surgir os sites pessoais, é uma época muito colorida, muito divertida da internet.
Quem viveu isso talvez tenha saudade, eu tenho.
Às vezes eu tenho vontade de colocar algumas dessas coisas, daqueles elementos no meu site, só para fazer graça.
Mas o que mudou, uma das primeiras mudanças radicais na internet, na web, estou toda hora falando internet, já fui contaminado pelo bug aqui da mistura das palavras.
O que mudou radicalmente foi algo chamado blog.
Quem viveu também essa época sabe que os sites passaram de algo estático, que eram quase que impressos, para algo dinâmico.
Passou a ser possível escrever algo e aparecer instantaneamente.
Era possível antes, era possível mudar sites, mas era muito mais trabalhoso.
Você normalmente fazia isso no seu computador, depois você conectava com um programa e esse programa enviava atualização para o site.
Não era de forma alguma dinâmico como os blogs são, que você simplesmente escreve e tampouco como redes sociais.
Era muito estático.
E os blogs começaram essa revolução de informação.
Passou a ser possível publicar algo instantaneamente e receber comentários instantaneamente.
Então várias pessoas ficaram muito famosas com blogs, várias pessoas começaram a criar blogs e depois empresas começaram a adotar blogs.
Então hoje quando você vê empresas postando as novidades que existem nas empresas, Jogos de guerras, porque eu já falei isso algumas vezes, a única forma de vencer é não jogando.
Ele falava da terceira guerra mundial, mas é a mesma coisa.
A única forma de vencer redes sociais, a forma como eu vejo, é não usando.
Porque o momento que você abre aquelas comportas de informação, aquilo é feito para te prender, para você ficar olhando, clicando, olhando, olhando e clicando.
Então, não tem uma outra forma de escapar, não tem como usar de forma moderada.
Eu penso assim, não tem como usar de forma moderada.
Então esse universo, que é um universo, em minha visão, do mal mesmo, é a palavra, é essa mesmo, esse universo da internet fechada, descentralizar, que além de te usar, te prende e domina tudo o que você publica e até a sua audiência, as pessoas com quem você quer falar.
E quando eu falo audiência, não é porque eu estou pensando aqui que todo mundo quer ser um, sei lá, um influencer, um criador ou qualquer coisa desse tipo.
São as pessoas com quem você quer falar.
Se você está publicando algo, é porque você quer falar com alguém, você quer compartilhar isso com alguém.
Então essas empresas dominam tudo isso, é tudo delas e é centralizado.
O que me faz, o que me fez tender e o que me fez ficar cada vez mais apaixonado por redes descentralizadas foi o fato de que elas seguem a mesma forma da internet funcionar.
Elas são, se eu publico em uma rede, por exemplo, se eu publico no Mastodon, que é uma rede que usa o protocolo, lembra lá, do ActivityPub, do W3C, qualquer pessoa de qualquer outra rede que também use o ActivityPub consegue ler e comentar.
Não é preciso a pessoa ter uma conta no Mastodon.
Ela pode estar em qualquer outra estrutura e comentar e acessar aquela informação e interagir com aquela informação.
Então não é dominado por nenhum, não há como ter um domínio, um controle por uma única instituição.
Ainda assim você precisa de uma conta, ainda assim você precisa ter esse vínculo com alguma instituição.
Porém, o ActivityPub, diferente das redes centralizadas, te permite migrar de um lugar para o outro, te migrar de uma conta para outra, levando todos os seguidores com você.
Eu já fiz isso algumas vezes para experimentar.
É incrível.
Ele leva todos os seguidores.
A pessoa que está te seguindo nem precisa saber o que aconteceu.
Ela vai continuar vendo suas postagens.
Então você tem essa forma de pular, pular de um galho para o outro sem o menor problema.
E você pode usar recursos como, por exemplo, a plataforma de blog que eu uso.
Tem uma conta ActivityPub.
Eu poderia, por exemplo, estar publicando usando o meu usuário, o meu domínio do meu site como o meu nome de usuário.
Eu prefiro a forma como o Macedon funciona.
Já usei a estrutura da plataforma de blog, o ActivityPub que eles têm, mas eu prefiro a forma como o Macedon funciona e como é possível migrar de um lugar para o outro.
Eu não tenho preocupação com isso.
Se amanhã ou depois eu quiser migrar, eu migro.
Mas, de novo, estou fugindo aqui um pouco do assunto.
Estou falando mais de tecnicalidades.
Então, primeiro, eu tenho o controle sobre o que está acontecendo.
Uma outra coisa muito importante, não existe algoritmo.
Talvez exista alguma com algoritmo, mas não conheço.
É tudo em ordem cronológica.
Se você voltar atrás vários episódios do podcast, não no YouTube, você vai encontrar uma conversa com a Frances Hogan, acho que é assim que pronunciava o nome dela, que trabalhou no Facebook, justamente nessa parte de algoritmo.
E ela fala, converter a timeline em algo cronológico muda totalmente as coisas.
Então, todas essas redes são cronológicas.
E você tem ali uma…
Tudo isso, eu acho, não é perfeito de forma alguma.
Tem brigas, tem intrigas, mas por conta dessa coisa de ser descentralizado, são várias pequenas comunidades.
E por conta de não haver esse algoritmo, ou seja, não existe um fluxo massivo de informação, a não ser que você siga uma quantidade absurda de contas, é muito mais calmo.
E essas intrigas e essas brigas não tomam a proporção que elas tomam numa rede centralizada.
Do ponto de vista de saúde mental, eu quero a maior distância possível de redes centralizadas.
Não tenho nenhum aplicativo no meu telefone e entro raramente nas redes centralizadas no computador.
O que eu faço é um cross-posting.
Quando eu coloco alguma coisa no meu blog, isso é publicado para essas redes, onde eu não entro raramente, vou a essas outras redes.
Mas é o que eu quero dizer, é que não precisa ser uma coisa ou outra.
De novo, para a minha saúde mental, eu quero consumir, me divertir, estar presente nas redes descentralizadas, no Mastodon, no Blue Sky, é onde eu gosto de estar, é onde eu gosto de conversar com as pessoas, interagir com as pessoas.
Porém, do ponto de vista de quem tem um negócio, como o meu, eu estou divulgando os posts em toda parte.
Mas, repito, o blog é meu, o domínio é meu, o controle é meu.
E todos esses posts que eu publico nessas outras redes centralizadas, tradicionais, eles apontam para o meu blog, eu trago as pessoas para o meu blog, as pessoas visitam o meu blog por conta desses outros posts que estão indo para lá de forma automática.
É pior do ponto de vista de algoritmo?
É, mas é mais saudável do ponto de vista mental eu entrar lá e publicar.
Às vezes eu tenho que entrar para corrigir algum errinho que fez um cross-posting errado, alguma coisa que deu errado, e quando eu abro aquilo e começa aquela enxurrada de loucuras, eu falo, ainda bem que eu não estou aqui, ainda bem que eu não tenho essas coisas no meu telefone.
Então, use a seu favor, se você pensa em algo assim, se você pensa em mudar, se você pensa em ter um blog, use a seu favor, trazendo as pessoas, usando essas redes tradicionais, centralizadas, para trazer pessoas para o seu blog.
Funciona, as pessoas leem o meu blog, todos os dias as pessoas acessam o meu site, eu tenho estatísticas, todos os dias, todos os dias, funciona.
Quando eu olho para o Substack, que foi assunto do episódio passado, não tem como eu não enxergar uma internet fechada e vislumbrar um possível futuro de todo aquele conteúdo, muita coisa boa ali, desaparecer completamente.
Talvez você não saiba, mas o Substack não dá lucro ainda, é uma quantidade absurda de dinheiro de investidores ali, pessoas escrevendo com o nome de usuário .substack.com, presas numa estrutura que pode desaparecer.
Pode virar uma coisa maravilhosa, não há dúvida quanto a isso, quantas coisas não ficaram incríveis, mas você está ficando, você eu digo genericamente, quem usa o Substack, aprisionado a uma estrutura que não fala sobre, nem sequer sobre aderir o protocolo ActivityPub, é um universo extremamente centrado e um mundinho em que eu prendo todas as pessoas ali dentro com o usuário, o nome, sim, é possível usar seu próprio domínio, é o mínimo que eu recomendo às pessoas que querem usar o Substack, até mesmo o Medium, use o seu próprio domínio, adicione o seu próprio domínio, pelo menos assim você preserva um pouco da sua existência online se você tiver que migrar para uma outra plataforma no futuro, ao menos faça isso se você deseja, se você pensa em usar o Substack.
E eu digo tudo isso com um pouco de conhecimento de causa, de experiência, eu falei usei blog por muitos e muitos anos, mas quando o Facebook surgiu e eu comecei a perceber essa comodidade de poder publicar ali e as pessoas comentarem, era tudo muito mais fácil, eu pensei, isso aqui faz muito mais sentido, por um tempo eu deixei de ter blog, por vários anos eu deixei de ter blog, eu perdi todo esse conteúdo, tudo foi embora no Twitter, no Facebook ou o que quer.
Imagina se eu tivesse investido toda a minha estrutura, tivesse continuado a investir toda a minha estrutura, todas as minhas ideias, todos os meus posts no Facebook, quem é que usa o Facebook como usava?
Se é que usa ainda o Facebook e quem usa não usa como usava antigamente e está abarrotado de algoritmo, aliás, isso vai acontecer com o Substack também, eles vão ter que dar dinheiro um dia, em algum momento aquilo vai virar algo para algoritmos, ficar empurrando aquilo que eles querem que vai dar mais dinheiro para a plataforma.
Então imagina se eu tivesse continuado no Facebook, em algum momento eu acordei, eu falei, ok, eu preciso voltar a ter meu blog e mais recentemente, eu diria, três ou quatro anos atrás, eu comecei a focar totalmente, com muito mais intensidade no blog, comecei a fazer experiências de plataformas, que plataforma, mudei de uma plataforma para outra, mas sempre carregando comigo o meu nome de domínio, isso é fundamental, tenha o seu nome de domínio, que é o seu endereço na internet, digo, se você quiser publicar coisas, compartilhar coisas, ter um blog, eu penso que se alguém está, de novo, se alguém está publicando coisas no Facebook, no Substack, no Medium, é porque ele tem algo a dizer e aquilo é valioso, tem que ter o seu nome de domínio, tem que controlar isso com o seu nome de domínio para que você possa mudar para uma outra plataforma se você quiser e ter um site, é isso, é ter a sua identidade, seu domínio, ter o seu blog e ter outras informações,