Antennapod
Por que paramos de usar essas incríveis ferramentas?
De acordo com meu gerenciador de senhas, minha conta no OpenStreetMap foi criada em 2013. Com relação ao Calibre, que voltei a usar recentemente, não encontrei nenhum registro, mas lembro que decidi experimentar a ferramenta logo depois que comprei o Kindle em 2012. Anos antes, em 2005, descobri e passei a usar o Audacity para gravar e editar meu primeiro podcast.
Essas e diversas outras ferramentas daquela época eram e ainda são muito boas. Sim, elas ainda existem e são frequentemente atualizadas. Porém, ao longo dos anos, algo aconteceu conosco. Parece que fomos enganados e gradativamente nos rendemos a toda sorte de conveniências. Talvez, a melhor palavra seja enfeitiçados, afinal, quando digo que voltei a usar algumas daquelas ferramentas, sou logo rotulado como louco.
Conveniências
Analisando com atenção, fica claro que caímos numa armadilha quase sem volta. Sim, os aplicativos que a maioria de nós utiliza hoje em dia já eram e são cada vez mais convenientes e simples de usar quando comparados às incríveis ferramentas que eles substituíram. O problema é que, sem perceber, fizemos um pacto com o diabo. Estamos cada vez mais entrelaçados em uma malha que funciona como um parasita, nos sugando até o limite do possível, e a energia que nos resta serve basicamente para seguirmos adiante como verdadeiros zumbis.
Parece dramático, mas não é. O mal causado por diversos desses aplicativos vai muito além da invasão de privacidade e, mesmo sabendo disso, a maioria das pessoas segue usando cada um deles sem nenhum tipo de questionamento.
Em contrapartida, aqueles que optam por tomar uma atitude enfrentam enormes dificuldades. Imagine, por um instante, que você deseja abandonar o Google. Parece simples, porque associamos a empresa à caixa de buscas que aparece no Chrome, mas essa é a parte mais fácil de resolver.
O que a maioria não nota é que o Google está tão interconectado a tudo que você faz que pode ser que você leve anos tentando desfazer esse nó. Por exemplo, que e-mail você usará para ativar seu Android? E como fará comentários no YouTube? E para quem faz logins em sites usando a senha do Google, Apple, Facebook, etc., pode ser que não exista mais como escapar das garras dessas empresas.
Enfim, já pensou nisso e em outras coisas que te conectam a corporações que sabem absolutamente tudo a respeito da sua vida e que te induzem ao consumo desnecessário e, em alguns casos, ao extremismo?
E já não bastam os apps nos monitorando o tempo todo. Essas corporações querem sempre mais e mais. Inúmeros zumbis certamente desembolsarão uma boa quantidade de dinheiro pelo privilégio de usar um óculos que mostra os detalhes mais íntimos de suas vidas para uma corporação que, seguidas vezes, demonstrou total falta de cuidado ou respeito com nossos dados pessoais. Se você não consegue perceber que somos apenas um rebanho controlado por eles, eu te entendo. Afinal, os sedutores são muito bons no que fazem.
De volta às origens
Recentemente, falei sobre as razões que me levaram a libertar meus livros com a ajuda do Calibre. Mas ele não é o único que está de volta à minha caixa de ferramentas. Por exemplo, ontem, estimulado pela versão 6 do plugin Map View do Obsidian, voltei a explorar o OpenStreetMap, inclusive no meu telefone, com a ajuda do Organic Maps. Como mostro no vídeo abaixo, rotas criadas em várias dessas incríveis ferramentas que resistiram ao tempo podem ser facilmente integradas ao Obsidian.
Sou o primeiro a admitir que fazer as coisas dessa forma não é mágico como a Apple gosta de pregar, mas não é nada que causará sofrimento. Ao contrário, em muitos casos é até prazeroso porque significa estar presente, agindo com atenção e intenção.
Quando procuro por alternativas, não é raro encontrar as respostas no passado, mas há, sim, muitos aplicativos modernos sendo criados sem foco na exploração do usuário. Por exemplo, ontem mesmo, comecei a experimentar o Antennapod para ouvir meus podcasts. Enfim, existe uma comunidade incrível que está fazendo de tudo para termos opções. É quase como se vivêssemos nos dois mundos do filme Matrix. O criado pelas grandes corporações e o dos rebeldes que tentam abrir os olhos dos dominados. Há alguns anos, escolhi a pílula vermelha e, como diria Einstein, “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”.
Não é um caminho fácil, mas não vejo razão para radicalismos. Acredito que se fizermos as coisas gradualmente, quando menos esperarmos, estaremos bem próximos de uma relação muito mais saudável com serviços e ferramentas alternativos, que também funcionam muito bem para tornar nossas vidas mais convenientes.
Já estou bem adiantado nessa jornada, mas não se trata de uma corrida. Há espaço para todos e, definitivamente, podemos vencer enquanto sociedade se caminharmos em direção ao mais saudável.